Como leitor assíduo do seu blog, li o artigo do Deputado Federal Paulo Rubem criticando a ação da PMPE, no episódio que culminou com uma enfermeira presa, na Avenida Agamenon Magalhães, no último dia 17, e em que pese o fato de minha função instar-me a expressar algum posicionamento a respeito, quero deixar claro que comentarei, e assinarei, este artigo como um cidadão pernambucano.
Ao ler o artigo, de imediato ocorreu-me o pensamento que Nietzsche imortalizou, dentro dessa temática: “Um político divide os seres humanos em duas classes: instrumentos e inimigos”. Nesse caso, posso dizer que o deputado fez isso com maestria. Uma maestria que exatamente por ser poderosa, torna-se danosa, e sendo danosa, solidifica a impressão que há muito compõe a imagem de boa parte da classe política – desacreditados.
Alguns políticos não conhecem nem o ódio, nem o amor. São conduzidos pelo interesse e não pelo sentimento, e nesse caso, tanto a líder sindical presa quanto o deputado, têm apenas um propósito - promoverem-se.
A primeira, uma candidata derrotada nas últimas eleições, deverá buscar alguns dividendos políticos nas próximas eleições, a partir das imagens da sua “injusta” prisão, enquanto representante da classe.
O segundo, em seu desenfreado confronto contra o governo (e aqui não me cabe procurar saber quais as razões dessa briga), para atingi-lo, utiliza-se de um evento em que, mais uma vez, os arranhões finais apenas descascam a pele dessa já tão combalida Polícia Militar.
Quem dera, esse deputado tivesse essa mesma verve histriônica que tem na defesa do Projeto de Lei 2.295, que propõe a redução da carga horária dos enfermeiros para 30 horas semanais, também na defesa da PEC 300, que ainda não foi votada em segundo turno, na Câmara dos Deputados, e que propõe um PISO salarial para policiais militares do país, que em Pernambuco recebem R$1.961,70 e trabalham 40 horas semanais, bem longe do TETO do nobre deputado, que é de R$26.723,00, fora os benefícios, que não são poucos.
Na defesa da enfermeira, o deputado Paulo Rubem esquece de dizer que a razão que culminou com a sua prisão foi o fato de ela ter dito, na ocasião e aos sobressaltos, que não reconhecia ali nenhuma autoridade policial, e ela não acataria nenhuma deliberação deles. Sem considerar que mentiu vergonhosamente ao dizer que foi agredida pelo policiamento, a ponto de ter de ser medicada posteriormente, o que pode-se claramente constatar o contrário, a partir das imagens cedidas pela SDS.
No desejo de que fosse respeitada a liberdade daqueles manifestantes, o deputado é incapaz de respeitar a dos outros. Quando ele diz que não viu violência alguma no movimento, e ignora o sofrimento daqueles que desejavam retornar às suas casas, suas famílias, ou mesmo aos seus doentes, e se viram impedidos de fazê-lo, por horas, em função do bloqueio gerado pelos sindicalistas, julgo que deva estar sofrendo do mesmo mal que tem acometido esta safra de políticos, que tem se apavorado com o que as ruas têm demonstrado – insatisfação com a classe política.
A postura do deputado, de toda sorte, gera uma reflexão. Embora saibamos que a solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana, o que justificaria o fato de que nenhum outro deputado, nenhum outro político, nem mesmo aqueles que são policiais militares da reserva e que foram eleitos com os votos dessa imensa família (afinal são mais de 100 mil pessoas, entre ativos, inativos, familiares e correlatos), nenhum deles, ter se posicionado em defesa da PMPE e das ações legítimas de seus componentes? Nenhum ter se solidarizado com aqueles que ainda são aplaudidos nas ruas e que por vezes recebem comentários ingratos?
Quando eu não vejo solidariedade ao profissional e ao pai de família; quando um deputado manifesta apoio a alguém que foi presa em razão de ter tentado desmoralizar o poder constituído; quando este mesmo deputado argumenta que houve um abuso de poder e despreparo por parte da corporação no ato dessa prisão (exatamente as mesmas práticas que os políticos que flertam com o ostracismo, e buscam espaço na mídia, têm feito nas últimas décadas), eu percebo que algo deva ser feito e que alguma atitude precise ser tomada. Nem que seja o inconformismo e a indignação solitária de um único componente dessa família.
Talvez, quem sabe, possamos experimentar o que um dia Sêneca falou:”Vale a pena experimentar também a ingratidão para encontrar um homem grato.”
Hugo Tadeu dos Santos
Major PMPE